A Música Contemporânea

Nestas férias tenho trabalhado durante a tarde, todos os dias, no escritório de engenharia e um amigo meu que trabalha lá comigo passa o dia ouvindo pop rock ou rock nacional enquanto trabalha. Como músico quase formado, venho do clássico, gênero musical detestado por muita gente, odiado por mais gente ainda e amado por poucos. E, por vir do clássico, os gêneros de rock que mais admiro e defendo estão entre o rock progressivo (Pink Floyd, Yes, Emerson, Lake & Palmer, Jethro Tull, Asia, entre outros) e o hard rock (Guns n' Roses, AC/DC, Led Zeppelin, Black Sabbath, Deep Purple, e companhia). Ora, o hard rock é objeto de ofensa para muitos críticos, e é até visto como trash, mas isso é conversa para outro dia.

Não gosto muito de pop rock, acredito que pouca coisa salva nesse meio, pelo modo como esse estilo de música caminhou para um lado puramente comercial, sem aplicações ou inovações para a arte ou sem gritos de protesto (não que a música tenha que, invariavelmente, ter caráter de protesto). Não. Hoje tudo é voltado para o lado mais comercial possível, porque o importante é vender, vender, vender. Os três temas mais saturados de hoje em dia na música, os mais escolhidos como temas de letras musicais são: amor, desilusão amorosa e amor e desilusão amorosa. Ora, meu problema não é com esses temas, não há nada de errado em falar sobre amor, todos fazem isso, é um tema bonito e até difícil de se falar e escrever. Meu problema é com o modo como a música se tornou um setor da indústria, e não da arte em si. E o real problema não está nos músicos que são fabricados hoje em dia. Existe uma gama de músicos de estúdio virtuosos, bons de serviço, geniais e que sabem o que fazem espalhados pelo mundo. Mas hoje, quem faz sucesso são aqueles que se vendem fazendo a música que mais fácil entra na cabeça das pessoas, e não aquelas que tem algum significado importante, que as faz pensar ou sentir. De forma alguma. Uso, para identificar esses músicos, um termo inventado por Freddie Mercury nos anos 80. Os músicos que se destacam, os que mais vendem e lucram com a sua música, são os que chamo de "prostitutas musicais".

Ora, mas Freddie Mercury disse: "eu sou uma prostituta musical". Se ele disse isso, então estava admitindo que fazia música apenas para ganhar dinheiro, certo? Corretíssimo! Mas existe uma diferença enorme entre Freddie Mercury e os músicos de hoje. É fato que a época em que a música é feita influencia o processo criativo, e naquela época, a música não era simplesmente um objeto comercial, era também uma forma de expressão e uma forma de arte, e tão certo quanto o indiano Freddie cantava bem, ele também não se esquecia de que o que estava fazendo era, acima de tudo, uma forma de arte. E é exatamente aí que mora o problema.

Nos dias atuais, a música está mais viva e ativa do que nunca, mas os ideais se perderam quase todos. Com o advento e o avanço da tecnologia, ficou muito fácil para qualquer um compor uma música. "A ruína dos ideais clássicos fez de todos artistas possíveis e, portanto, maus artistas". Isso acontece porque não é mais necessário entender de música para compor música, é preciso apenas que se saiba mexer em um software que automatiza tudo, é só clicar e a música está pronta. Dessa forma, quem não tem talento também compõe, acha que está bom e mostra para todo mundo, afinal de contas, o que seria do mundo do comércio sem a internet nos dias de hoje?

O problema é que as pessoas de hoje em dia pensam de forma diferente do que pensavam a 300, 100, 50 anos atrás. Na década de 70 o "pop" era Donna Summer, a rainha das discotecas. No Brasil, quem se destacava eram os malucos psicodélicos de bandas como O Terço, Sagrado Coração da Terra, A Barca do Sol, O Som Nosso de Cada Dia, Doces Bárbaros e muitos outros. Essas bandas é que eram o pop da década que mais influenciou e mais inovou a música.

Mas o que vem a ser o "pop"? Elton John é tão pop quanto Jota Quest, e os gêneros musicais de ambos são tão parecidos quanto o rato é com o gato. Ora, é claro que "pop" não é um gênero musical. Não existe o gênero "pop rock". Existe o rock! O termo "pop" é uma abreviação da palavra "popular" (parece óbvio, mas pouca gente pensa nisso), que vem do latim "populis", que significa "do povo". Portanto, Bohemian Rhapsody é tão pop quanto Garota Nacional, a única diferença é que uma é mais difícil de se escutar do que a outra.

A música cheia de detalhes, que não tem um refrão que cola na cabeça por três dias é igual um livro difícil de ler: só se aprende a lê-lo, a entendê-lo, lendo-o e lendo outros livros do mesmo gênero. Mas, infelizmente, hoje tudo vem mastigado, tudo vem mais fácil de engolir, e se, no caso da música, é necessário fazer esforço para entender, então ela é ruim e não presta. É mais fácil e mais gostoso ouvir uma música quando ela é simples, repetitiva e grudenta. É isso que as pessoas querem. Daí o sucesso absurdo de “músicos” como Justin Bieber, Lady Gaga, Katy Parry, Black Eyed Peas e outros nomes da música contemporânea.

Esses músicos, que vem usando a música e as ferramentas eletrônicas para produzirem seus hits de sucesso mundial em nada contribuem para a música em si. A música eletrônica poderia ter sido muito mais inovadora se os produtores e donos de gravadoras não tivessem caído na bobagem de investirem em clones.

A meta capitalista foi uma das causadoras desse desastre cultural. Antigamente, o que fazia sucesso era o músico que inovava, que tentava coisas novas e diferentes, tanto que nos 70, o “boom criacional” era absurdo e em época alguma houve tantos músicos experimentais como aquela. Mas atualmente, faz sucesso aquele que imita os que vieram antes dele. Nunca houve tantas músicas que falam sobre amor, nunca houve tantas músicas que falam sobre desilusão amorosa. Nunca houve tantas músicas repetitivas e sem graça. Mas as pessoas ouvem e falam: “é bonitinha!”. Sim, mas e daí? O que mais ela é além de bonitinha? Outro dia surgiu uma banda fazendo sucesso que era exatamente igual àquela que acabou de tocar ali no Caldeirão do Huck.

Mas o problema não está com os músicos e sim com quem lança os músicos? Também. O mercado oferece o que o público pede. A cultura musical seria tão mais rica se as pessoas não pedissem sempre o mesmo prato todas as vezes.

Lady Gaga é boa cantora, veio da ópera. Estuda piano desde os quatro anos de idade, mas só agora conseguiu reconhecimento. Por quê? Fergie também é uma boa cantora, é criativa com suas melodias, mas quando tentou sua carreira longe do Black Eyed Peas, sumiu do mundo. Por quê? John Mayer é um excelente guitarrista, que usa bastantes levadas do blues em suas composições e canta bem, mas não toca blues. Suas músicas apenas passam de leve por ele. Por quê? Justin Bieber... bom, deixa ele pra lá.

Hoje, todos os bons músicos, que tem que pagar suas contas e comprar o pão de cada dia, caem na mesmice de todos os outros músicos. São bons músicos, criativos e técnicos, mas não usam nem metade de seus recursos na hora de compor. Porque não basta fazer uma boa música, mas sim fazer uma música que venda bastante, ainda que ela seja de má qualidade. Essa é a meta, e a inovação acabou sendo deixada no canto, esquecida e passou a ser vista como utopia ou um sonho distante.

E quem sai perdendo com isso tudo? Todo mundo! As gravadoras lucram e depois correm atrás de outra imagem, as pessoas ouvem a música que gostam e se esquecem dela depois e a cultura empobrece cada vez mais ou vai sendo esquecida. Para quê serve a cultura quando se tem o dinheiro para nos suprir?

Não sou contra esses músicos. Sou contra os rumos que a música está tomando nos últimos anos. Acredito que tudo poderia ter sido diferente se a criatividade não tivesse sido assassinada como foi em prol dos lucros dos músicos e das gravadoras.
Hoje, os músicos que possuem técnicas, os virtuosos, estão em extinção. Quando David Gilmour, Keith Richards, Angus Young, Keith Emerson, Ian Anderson, e muitos outros se forem, o que vão restar em sua maioria esmagadora vão ser apenas músicos “fogo de palha”. Músicos do momento. Ficam três meses fazendo sucesso e depois caem no esquecimento e dão a oportunidade aos que vem em seguida. Quantos músicos podem se gabar de comemorarem quarenta anos de estrada? Quantos músicos fazem turnês especiais de comemoração de trinta anos de estrada?

O mais importante seria recuperar a criatividade musical e aplicá-la aos gêneros dos dias atuais. Deixar que a capacidade de criação dos músicos que estão por aí flua e que a riqueza cultural seja refeita, ou então continuaremos na estagnação cultural com outros justins biebers liderando o caminho.

2 comentários:

  1. Tipo.... "nestas férias"?

    :-p

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  2. uehauheauheaueahueahueheahueaheua

    Escrevi esse texto no começo do ano, nem me dei o trabalho de reler pra ver se precisava mudar alguma coisa. Foi Crtl+C Ctrl+V mesmo.

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