Esta postagem nasceu de uma conversa que tive com um amigo sobre música.
Outro dia eu estava assistindo a um clipe de Justin Bieber na televisão. O clipe é aquele promocional do novo filme da franquia Karatê Kid, no qual ele aparece cantando ao lado de Jaden Smith num estúdio. As cenas da gravação da música foram mescladas a trechos do filme, estrelado por Jackie Chan, mas o que interessa não é a música, e sim as imagens, por hora.
Ora, pode parecer implicância da minha parte, mas o que eu vi não foi nada diferente de Backstreet Boys e New Kids on the Block, só que em versão pré adolescente. Ora, ele inventou modinha, sim, usando aquela chapinha emo-chapéu-côco, mas o casaco de couro, a calça coladinha e as mãos nos bolsos não deixam sombra de dúvida: é uma nova versão de Backstreet Boys misturado a New Kids on the Block disfarçado de novo com aquele cabelo estranho. O sucesso estrondoso é inegável, sim. Justin Bieber é uma máquina de fazer dinheiro (por hora), mas não passa de um rótulo novo para o produto antigo.
Depois de ver o clipe, fiquei me indagando com um amigo. Ora, nos dias atuais estética e música andam lado a lado. Houve um tempo em que a música era mais importante do que a estética, mas isso mudou e hoje o que define se uma banda faz sucesso, lança modinha ou não, é a estética. A moda lançada pela banda fica por mais tempo no corpo das pessoas do que os hits e os singles nas paradas de sucesso.
Quem foi o responsável por tornar a estética mais importante do que do que a música foi o punk, ora mais. Portanto, a culpa total por a música ter sido deixada de lado em prol da estética é do punk. Sim! Mas a esta altura você deve estar se perguntando quem é esse tal de Malcolm McLaren e o que ele está fazendo no título da postagem. Pois vamos lá. Vamos por partes.
O último movimento puramente musical foi o rock progressivo, com composições longas e melodias complexas que se aproximavam muito da música erudita. Por vezes, as músicas chegavam a vinte minutos de duração, como exemplos têm-se Echoes (23 minutos), Shine on You Crazy Diamond (28 minutos), Atom Heart Mother (28 minutos), todas do Pink Floyd. Há também Thick as a Brick (43 minutos) do Jethro Tull. Supper's Ready (23 minutos), do Genesis, The Gates of Delirium (28 minutos) do Yes. E há um recorde por Mike Oldfield (o compositor da trilha sonora do filme "O Exorcista"), que chegou a uma hora e dois minutos de música sem cortes. Amarok era a única música no álbum e dava nome a ele.
Sobretudo, o movimento do rock progressivo ficou "musical demais", e aconteceu um contra movimento de duas partes. A primeira era do punk ia contra tudo o que o rock progressivo dizia. Em outras palavras, em vez elfos e magia, tinha-se então lixo, sujeira e cabelo colorido e espetado, e ter atitude era mais importante do que saber tocar um instrumento. É aí que Malcolm McLaren entra na história. Ele foi, de longe, o maior responsável pela propagação do punk rock no Reino Unido, onde o progressivo havia nascido. McLaren vira empresário da banda New York Dolls depois de vê-los entrarem na Let it Rock, uma loja de roupas para a nova geração de teddy boys - os filhos das gangues originais de 53. O visual da banda (uma mistura de glitter e sadomasoquismo) foi o que conquistou McLaren. Em 75, McLaren deixa os Dolls depois de perceber que o que estava valendo no cenário musical era a atitude e não a música.
Naquele mesmo ano, depois de voltar para a sua loja, McLaren cria o epicentro do terremoto que abalaria de vez os alicerces do progressivo. Ele havia criado um fenômeno chamado Sex Pistols. A partir daí, o movimento só fez se alastrar.
A segunda parte do contra movimento estava acontecendo no soul americano. Nascido de uma mistura do blues e do gospel, o soul crescia nas paradas de sucesso com a ajuda do apelo religioso trazido do gospel. Foi nessa época que nomes como Ray Charles, Ben E. King, Jackie Wilson e Sam Cookie ganharam importância. Contudo, o soul atingiu um nível de técnica, virtuosismo e qualidade sonora que passou a ter graça apenas para quem tocava. O soul havia cometido o mesmo erro do rock progressivo, e daí nasceu o movimento Disco, que foi o tiro no pé da música negra.
Da mesma forma que o punk perverteu a ideia inicial do progressivo no rock, o Disco destruiu a ideia inicial do soul power, poder para o povo negro e colocou tudo isso num formato comercial que vendia bastante. A estética, que já era valorizada desde os tempos do punk de Malcolm McLaren, ganhou ainda mais importância do que a música e a filosofia em si. Esse foi o começo do fim da criatividade na música para todos os lados, tanto no rock quanto no soul.
Nos anos 80, mais duas revoluções aconteceram no rock e no soul. O hip hop surgiu como reforma musical e filosófica, tranzendo de volta a ativa a luta e a cultura do povo negro. No rock, o grunge surgiu e reestruturou os três acordes usados nas melodias punks. Mas o mainstream estava lá o tempo todo.
O mainstream se ergueu novamente, pegou tudo que estava acontecendo na música, em todos os lados, e comercializou tudo. Hoje, o que manda no mundo é a estética, e a música ficou como um segundo plano, apenas uma desculpa para se lançar uma modinha e fazer fama.
É triste, mas compreensível. Ora, numa sociedade regida muito mais pelo olho do que pelos ouvidos, tudo isso não passa de consequências sociológicas e tecnológicas. Haja visto que nas décadas de 50, 60 e 70, apesar do advento da televisão, o rádio ainda era muito forte e, portanto, a sociedade era mais estimulada pela audição do que pela visão. Então, nas décadas de 80, 90 e 2000, com a televisão e os computadores de mão, o visual se torna muito mais importante do que a música.
Tudo isso, na realidade, não passa de pura necessidade de época.
Punk rock, ié! \m/
ResponderExcluirProgressivo morreu quando eu nasci, e olha que eu ainda ouvia isso uns 20 anos depois :-p
É você falou tudo!!! " Justin Bieber é uma máquina de fazer dinheiro (por hora), mas não passa de um rótulo novo para o produto antigo."
ResponderExcluirPura verdade!!!
Progressivo não morreu. Só tá dormindo. #hope
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