O Que Foi e O Que Pode Ser

Ontem foi o dia mais... mundo da minha vida.
Fui para uma ocupação ontem, a Ocupação Dandara. A situação do terreno é complicada, o terreno era da prefeitura, começou a ser ocupado por famílias que vinham de áreas de deslizamento e por moradores de rua. Então a prefeitura fez uma venda ilegal para uma construtora, e agora com a Copa de 2014 a construtora quer construir um condomínio de luxo e o governo quer “higienizar” o Brasil, o que significa esconder a pobreza, a violência e tudo aquilo que não é bonito de ver. Mas é claro que essa higienização está mais pra varridinha pra debaixo do tapete.

Várias entidades estão tentando intermediar esse caso, inclusive algumas pessoas dessas entidades estão morando lá para viver como a população da Dandara, para sentir na pele seus problemas e incentivá-los a prosseguir na resistência. A ocupação também tem a ajuda fundamental de um frei que conversa com toda a população e com as entidades apoiadoras, cede sua igreja para as reuniões e que inclusive está sofrendo processo de excomungação por isso. Além destes, estão estudantes de direito, senhorinhas católicas, diversos partidos de esquerda, a ONU, institutos e independentes. Todos fortalecendo milhares de moradias de pedaço de madeiras e sem iluminação.

Estava ontem no Fórum de Solidariedade às Ocupações, que aconteceu no pátio da igreja e teve a presença de todos aqueles que eu citei acima e mais alguns representantes da Dandara. Em um primeiro momento demos idéias quanto ao que podia ser feito, depois separamos as tarefas. Ai foi vez de levar as resoluções para o povo. Fomos até a Ocupação, o frei fez uso da sua imagem e do seu carisma para unir as pessoas dispersas em um circulo, introduziu o fala e fez uma reza conjunta muito emocionante. Então um menino da entidade que cuida dos movimentos populares e que mora junto aos moradores, tirou sua fala de graduado em direito pela UFMG que usou na assembléia e começou a conjugar mal os verbos, usar gírias e falar com um jeito mais desembaraçado, que se fazia entender e ganhava a população.

Parei alguns instantes para perceber aquela cena que se fazia, acho que foi a imagem mais bonita que eu já vi, uma centena de pessoas negras e cafuzas, com chinelo no pé e suor na testa, todas naquele circulo iluminado por uma lâmpada fraca lá no alto, olhando aquele menino no centro. Eles tinham tristeza na face, mas o olhar era fixo e de esperança. Era um circulo de gente bem gente, em cima do morro mais alto, onde todas luzes da cidade nos circundavam, com uma fraca luz amarela que ia do centro e ia acabando aos poucos.

E já já é natal... tempo de dar e receber.
Estamos nos dando...
Amém.

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