Eu tenho caminhado entre essas pedras cravejadas com espinhos e sem nenhum tipo de proteção nos pés. Sozinho. Assim mesmo, sem mais nem menos. Simplesmente comecei a andar. E embora eu não saiba onde esse caminho vai chegar, eu continuo andando. Há outras pessoas nessa mesma estrada, e posso ver outras estradas também. Há mais pessoas caminhando por elas; algumas sozinhas, outras acompanhadas. Há casais, duplas, trios, mesmo grupos inteiros de pessoas caminhando juntas, mas algumas se separam quando encontram uma daquelas bifurcações que aparecem sem aviso prévio. Ninguém sabe nada delas. Nem eu. Só sabemos que quando elas aparecem, devemos escolher que lado seguir, e que Deus nos ajude se aquele for o caminho certo, porque não há placas de informação ou setas indicando o caminho mais seguro, ou mais curto, ou mais longo, ou mais perigoso. Só há a escolha que temos que fazer. Alguns casais se separam quando aparece uma dessas bifurcações na estrada, outros seguem juntos.
Certa vez encontrei uma pessoa e começamos a caminhar juntas. De mãos dadas, assim íamos nos conhecendo melhor. O início é sempre empolgante, mas depois fica mais difícil e eu simplesmente acho que em certos pontos é realmente muito bom ter alguém do lado acompanhando. Mas, em alguns momentos, eu preferia estar sozinho. Eu caminhei junto com essa pessoa por muito tempo. Fiquei feliz por isso, mas acho que ela não gostou muito e até tenho motivos para acreditar que ela preferia ficar sozinha a andar ao meu lado. Às vezes eu tropeçava em alguma daquelas pedras e pisava nos espinhos espalhados pelo chão, que na maioria das vezes era sempre poeira. Quando um de nós caia, a poeira fina se levantava e ninguém via mais nada, aí o problema era não poder enxergar para onde estávamos caminhando. Se saíssemos do caminho, coisas ruins poderiam acontecer. Ninguém conseguia saber o que havia além das bordas da estrada. Algumas pessoas que saíam conseguiam voltar, outras não, mas elas nunca falavam o que havia lá.
Uma vez eu caí. Estava de mão dada com a pessoa que andava comigo, e a puxei para o chão também. Eu me levantei rapidamente, mas ela não conseguiu e ficou deitada. Às vezes nos preocupamos tanto em olhar para frente que nos esquecemos de olhar para os outros que estão próximos de nós. Eu deveria ter percebido antes que continuei puxando-a, arrastando-a pelo chão sem deixar que se levantasse. Tivemos que soltar as mãos para que ela pudesse se levantar e poder continuar caminhando. Podemos esperar até os outros se levantarem, mas, por alguma razão, há momentos que não podemos ajudá-los a se levantar. Há momentos em que eles têm que fazê-lo por conta própria. Eu posso esperá-la até que se levante e decida se vai continuar caminhando comigo ou não, mas não posso esperar por ela por muito tempo. Às vezes temos que simplesmente parar de esperar e continuar o caminho por nossa própria conta, sozinho novamente, apenas torcendo para que algo de bom aconteça e tomando cuidado para não cairmos outra vez e puxar outras pessoas com a gente. Mas não posso esperar demais por ninguém. Ninguém pode. Simplesmente temos que continuar a andar. Há pausas temporárias, mas nenhuma definitiva. Temos sempre que continuar a caminhar.
Primeiramente, queria falar que eu acho muito bonito o projeto de vocês, e que eu acho muito fluida e harmonica o jeito que as coisas tem acontecido aqui.
ResponderExcluirE também falar que dei umas lidas por aqui, (talvez se não estivesse com tanto sono e não-enrolando pra fazer trabalho de Antropologia eu podesse dar maior atenção, provavelmente algum dia vou dá-la), e não pq vcs são meus colegas, mas eu achei bem rico e diverso, variado. Dá pra ter "umas diversão" de várias ordens. Eu tive.
Depois queria me segurar nesse texto e elogiar o tom intimista desses escritos. especialmente pq, pelo menos por enquanto, o publico provavelmnte sabe um pouquinho da inspiração dele. Eu não teria essa coragem... e nem sei se terei um dia.
Te acho ético seu autor, te acho etico dentro do micro e corajoso na visualização macro.